CONTRACONDUTAS
Uma construção político-pedagógica coletiva
Com a responsabilidade de construir coletivamente e dialogar entre públicos heterogêneos, o projeto político-pedagógico Contracondutas voltou-se para articulação de uma rede, que envolveu mais de 250 pessoas e 15 organizações socioculturais e de ensino, amplificando e participando do debate público sobre trabalho escravo na contemporaneidade e suas especificidades na construção civil. Múltiplas camadas de pesquisas, investigações jornalísticas, ensaios fotográficos, exposição, palestras, oficinas, publicações e intervenções públicas, se alternam entre atividades pedagógicas e programa público, em Guarulhos e em São Paulo. Ao endereçar questões acerca de estruturas e sistemas socioeconômicos que impactam os processos da construção civil e seus meios de produção no mundo globalizado, essa pesquisa-diagrama busca abrir caminhos para sua continuidade, provocando reposicionamentos e perguntando-se sobre as condutas-contra-condutas: individuais e coletivas, profissionais e acadêmicas, institucionais e ativistas, cartográficas e imagéticas, cruzando as práticas do direito e da arquitetura.
Ana Carolina Tonetti e Ligia V. Nobre
curadoras e coordenadoras do Projeto Contracondutas
CONTRACONDUTAS
Desenvolvido no âmbito do Conselho Técnico da Escola da Cidade, o projeto Contracondutas busca responder, com diversas ações político-pedagógicas, parte de questões abertas pela fiscalização e flagrante de situações relacionadas ao trabalho análogo a escravo em uma grande obra em Guarulhos, o Terminal 3 do Aeroporto Internacional.
Assim, por decisão do Ministério Público do Trabalho de Guarulhos, parte da verba do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), colocado a uma grande construtora, foi destinada à Associação Escola da Cidade, para a elaboração de um projeto que problematizasse e impactasse o debate público sobre as grandes obras de infraestrutura, a migração e o trabalho análogo a escravo na contemporaneidade.
O projeto Contracondutas foi idealizado por uma equipe interdisciplinar de profissionais com duração de um ano (maio de 2016 a maio de 2017), e opera como dispositivo que atravessa diversas atividades didático-pedagógicas da Escola da Cidade – tais como o Seminário de Cultura e Realidade Contemporânea, o programa de Estágios de Pesquisa Científica e Experimental, disciplinas regulares de Meios de Expressão que tratam das relações entre Arte e Arquitetura e o Estúdio Vertical –, ao mesmo tempo em que incorpora e provoca indagações acadêmicas, jornalísticas e artísticas, projetando-se em direção ao debate público do tema e de suas repercussões na cidade, nas relações sociais, na ocupação do território, nos fluxos migratórios, nas políticas públicas e nas produções culturais. Entre tais ações previu-se a realização de intervenções de interesse público como forma efetiva de envolver outros agentes nos debates e na proposição de atuações.
CONTRA – SEMINÁRIO INTERNACIONAL – CONDUTAS
Políticas da arquitetura e trabalho escravo na contemporaneidade
O Seminário Internacional é um evento anual da Escola da Cidade no qual, durante uma semana, a Faculdade recebe convidados nacionais e internacionais e organiza conferências e debates abertos ao público, oficinas e dinâmicas especiais entre alunos, professores e público interessado. Em sua XII edição, o Seminário Internacional conta com a co-realização do Sesc São Paulo, e recebe a tônica do Projeto Contracondutas ao propor discussões ao redor do tema: Políticas da arquitetura e trabalho escravo na contemporaneidade.
04/04/17
Trabalho e Arquitetura
Beatriz Tone e Cristiane Gomes [Usina]
Mutirão Paulo Freire: movimento popular, arquitetura e pedagogia da práxis
Ana Luiza Nobre e Grupo de Pesquisa RioNow [PUC-Rio]
Depois do futuro: escravidão e morte em canteiros olímpicos no Rio de Janeiro
Peggy Deamerv [Yale University of Architecture]
O trabalho-trabalhador da arquitetura
Mediação: Ana Carolina Tonetti e Ligia Nobre [Escola da Cidade]
Arquitetura como Tecnologia Política
Felicity Scott [Columbia University]
05/04/17
Desenho de Estratégias
Manuel Ulloa [EAHR]
A cultura e seu papel orientador em nossa sociedade: O caso da Fundación Arquitectura, Emergencia y Derechos Humanos
Diego Barajas e Camilo Garcia [Husos]
Casas (re)produtivas em Dispersão
Melanie Dodd [MUF/Central Saint Martins]
Quem faz o projeto?
Mediação: Marina Grinover [Escola da Cidade]
06/04/17
Contracartografias
Daniel Lima [Frente 3 de Fevereiro]
Investigação-ação
André Mesquita [Rede Conceitualismos do Sul]
Cartografia crítica: das imagens do poder às lutas sociais
David Sperling [NEC IAU-USP]
O que está em (e fora do) jogo? Contracartografias como ações estéticas e redesenhos políticos
Pablo Ares [Iconoclassistas]
Mapeamentos coletivos: espaços de articulação entre pedagogias críticas, processos colaborativos e táticas libertadoras
Mediação: Marta Lagreca [Escola da Cidade]
07/04/17
O comum e o direito: habilidades de resposta
Rodrigo Bonciani (Unila)
Escravidão, tráfico de pessoas e trabalho forçado: costumes e direitos na história
Paulo Tavares (UnB)
Arqueologia da violência
Karina Oliveira Leitão (Fau-USP)
Grandes obras e seus atingidos no Brasil de ontem e hoje
Mediação: Amália dos Santos [Escola da Cidade]
Exposição CONTRA DIAGRAMA CONDUTAS
De 8 de abril a 13 de maio de 2017 - Escola da Cidade
A exposição coletiva confere visualidade e materialidade aos resultados de um ano de pesquisa do prodjeto Contraconduta , e suas ações político-pedagógicas relacionadas ao tema do trabalho análogo ao escravo e seus desdobramentos. Embora seja um momento conclusivo, os produtos, publicações, pesquisas e articulações propostas repercutirão no tempo os enunciados propostos pelo projeto: a exposição é diagrama de um projeto em transcurso.
Entre os trabalhos dos artistas convidados e selecionados por chamada aberta estão o Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporâneas – NEC/IAU-USP, a artista visual Raquel Garbelotti, o Coletivo 308, Coletivo Metade e Vânia Medeiros.
A artista Raquel Garbelotti exibe a videoinstalação inédita “Mise-en-Scéne”, com dois filmes feitos em estúdio a partir da simulação da circunvolução solar em volta da maquete de uma das casas onde foram encontrados trabalhadores em condições análogas a escravo, nas imediações do Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos. O resultado evidencia as condições insalubres de moradia a que eram submetidos os trabalhadores.
O Coletivo 308, por sua vez, amplia o alcance do “Projeto Labor”, realizado originalmente em Guarulhos, com a exibição de duas grandes matrizes xilográficas em que são representadas as moradias e os arredores do Aeroporto Internacional e sua impressão em lambe-lambes, espalhados pelo espaço expositivo. Exibem, também, série de objetos escultóricos feitos em barro e gesso, no formato de um avião e de uma carriola.
O NEC/IAU-USP de São Carlos apresenta “GRU-III: Contracartografias”, que consiste em painéis diagramáticos com mapas e textos que elucidam as relações econômicas e de trabalho que atravessam a dinâmica aeroportuária, com foco na construção do T3 de Guarulhos, além de um conjunto de diagramas que atenta para os diversos atores envolvidos em grandes canteiros de obras.
O Coletivo Metade, formado por Ana Sayeg Tranchesi e Isabella Beneducci Assad, realizou pesquisa de campo na municipalidade de Petrolândia, em Pernambuco, de onde grande parte dos trabalhadores do Terminal 3 veio, aliciada por atravessadores. A pesquisa se transforma na obra “CentoeOnze”, em que tótens sonoros amplificam declarações desses trabalhadores. Vânia Medeiros exibe o livro “Caderno de Campo”, com uma série de desenhos feitos por trabalhadores da construção civil a partir de ateliês, conduzidos pela artista, em que eles representam cenários de trabalho.
Completam a exposição: uma pequena biblioteca com livros sobre o tema e cinco pesquisas acadêmicas-experimentais de estudantes e professores da Escola da Cidade; a série de reportagens “Por detrás do tapume”, de Sabrina Duran, com fotografias de Renata Ursaia, realizadas especialmente para o projeto; o vídeo “Terminal 3”, com direção de Thomaz Pedro e Marques Casara, da Papel Social; e o trabalho coletivo “Em Paralelo”.
A exposição “Diagrama Contracondutas” vai itinerar para o município de Guarulhos e para Liverpool, na Grã-Bretanha, após seu encerramento em São Paulo.
Curadoria: Ana Carolina Tonetti e Ligia V. Nobre
Equipe Contracondutas
Coordenação Geral e Curadoria:
Ana Carolina Tonetti e Ligia Velloso Nobre
Coordenação Conselho Técnico: Felipe Noto
Assistente de Curadoria e de Produção: Julia de Francesco
Produção: Gabriel Pires de Camargo Curti
Assistente de Arquitetura e Design: Guilherme Pardini
Estagiária de Edição e de Produção: Mariana Caldas
Coordenação de Edição: Gilberto Mariotti
Editora Adjunta: Joana Barossi
Linguagem Visual e Direção de Arte: Vitor Cesar
Estagiário de Linguagem Visual: Alexandre Drobac
Estagiários de Edição e Publicação: Alexandre Makhoul e Mateus Loschi
Publicações Contracondutas
Produção: Editora da Cidade – José Paulo Gouvêa e Mateus Tenuta
Estagiário de produção gráfica: Breno Felisbino da Silveira
Plataforma Digital
Arquitetura do Site: Cláudio Bueno
Programação: Cláudio Bueno e Andrei Thomaz
Linguagem visual da plataforma: Julia Masagão e Vitor Cesar
Exposição contra diagrama condutas
Concepção: Ana Carolina Tonetti, Ligia Nobre e Vitor Cesar
Produção: Gabriel Pires de Camargo Curti
Assistente de Arquitetura e Design: Guilherme Pardini
Cenotecnia: Elástica Espacial - William Zarella e equipe